Formulada pelo antropólogo Ashley Montagu, mas viralizada pelo pediatra Harvey Karp, a teoria da exterogestação diz, basicamente, que a gravidez não dura apenas 9 meses e sim 12 – ainda que último trimestre aconteça fora da barriga da mãe. A ideia é fazer uma transição lenta do bebê para a vida extra-uterina. E como isso acontece na prática? Os pais devem recriar ao máximo as sensações que a criança tinha quando ainda estava no útero durante esse períodoO bebê nasce absolutamente dependente. Ele não enxerga, não fala, não escuta, não anda, não senta, não sustenta a cabeça, não se relaciona. Por um período, depois do parto e enquanto se desenvolve, ainda precisa ter mais apoio, o que seria a continuidade da gestação, mas fora do útero”, explica Moises Chencinski, pediatra, homeopata e presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
É preciso entender que o bebê não nasce condicionado aos hábitos dos adultos. No útero, ele recebe alimento constantemente pelo cordão umbilical, em livre oferta. Ao nascer, está programado para satisfazer a fome quando deseja e não de três em três horas, por exemplo. É importante que essa adaptação – e muitas outras pelas quais ele precisa passar – seja feita aos poucos, por isso o especialista recomenda que o recém-nascido durma no quarto dos pais nos três primeiros meses, inclusive usufruindo de cama compartilhada. “Há formas seguras de fazer isso,” garante.
O uso de carregadores, como o sling, para que o recém-nascido se sinta bem próximo da mãe, a reprodução de sons que lembrem os ruídos do organismo materno, como o barulho de um secador de cabelos ou um “shhhhhhh” nas voz dos pais ou cuidadores, são algumas das atitudes que ajudam o bebê a lembrar do útero e a sentir que está seguro. Veja as dicas do pediatra para tentar uma transição mais tranquila do recém-nascido para a vida fora da barriga da mãe:
– Usar o sling, aquela faixa que mantém o bebê próximo ao corpo da mãe, coloca-o em constante movimento. Assim como acontece no ambiente intrauterino, ele tem a oportunidade de caminhar sempre junto dela, além de ouvir sua voz e seu coração bem de perto, como era na gravidez.
– No banho de ofurô, a banheira que lembra um balde, o ambiente mais compacto e com água faz com que o bebê lembre daqueles nove meses que passou no líquido amniótico e o faz relaxar.
– A shantala é recomendada a partir do primeiro mês e, apesar de não ter estreita relação com o que acontece dentro do útero, também ajuda no processo de adaptação e relaxamento do bebê.
– Aleitamento materno exclusivo até o sexto mês e em livre demanda faz bem tanto pelos nutrientes essenciais que a mãe fornece para o bebê quanto pela proximidade entre os dois.
– Luz baixa e pouco barulho são importantes para não agredir os olhos e ouvidos do recém-nascido, que ainda são muito sensíveis. Além disso, é preciso tomar cuidado com as visitas. O bebê capta a agitação do ambiente, da mãe e pode ter cólicas.
“Isso favorece uma criação com mais apego. Não é exatamente recriar o útero fora do corpo, mas tentar uma transição e manter alguns cuidados que ele tinha na gestação sem um corte abrupto, o que prejudica a segurança e a confiança,” explica Chencinski.
Os principais envolvidos no processo da exterogestação são a mãe e o bebê. O mais importante para tornar a transição mais tranquila tanto para um quanto para o outro é o contato entre eles. Ambos precisam estar próximos e aproveitar o tempo juntos para se conhecer. Enquanto o recém-nascido se familiariza com a voz, o colo e o cheiro da mãe, ela entende quantas horas ele precisa dormir por dia, quantas vezes faz cocô, a que horas precisa mamar, etc.
Embora exija um pouco mais de paciência dos pais, é essencial respeitar o ritmo do bebê sem impor regras. Ele vai se adaptar ao novo mundo, mas dentro do seu próprio tempo e de acordo com as suas necessidades.
Fonte: https://revistacrescer.globo.com/Bebes/Cuidados-com-o-recem-nascido/noticia/2017/01/exterogestacao-gravidez-pode-durar-mais-de-9-meses.html